sábado, 24 de agosto de 2013

Porque não liguei pro mecânico?

Não liguei, não.

Quis comprar um novo carro é verdade.
Entretanto vidas conjuntas têm vontades opostas, quereres diferentes e em nome da boa convivência e camaradagem conjugal uma das partes precisa largar a corda a fim de que não se parta e bata na própria face.

Andando a pé iniciei uma nova jornada.
Observei lugares onde passei minha infância.
Casas nas quais não era bem vinda. As mais suntuosas, com efeito.
Ruas nas quais corri, joguei bola, cai de bicicletas de amigos.
Clube recreativo onde nadei, brinquei carnavais, onde fui barrada muitas vezes por causa das mensalidades atrasadas, comércios.

Andando a pé observei que os nomes de carros mudaram e muito,
Mas que as marcas de cigarro são basicamente as mesmas de quando brincávamos de “stop”
Pude ver que as pessoas continuam emporcalhando a cidade

Estando a pé pude perceber que tenho poucos amigos,
E o quão orgulhosas podem ser as pessoas.
Observei que algumas pessoas só se aproximam de nós quando precisam, mas quando precisamos...
Reaprendi a dar bom dia e boa tarde.
Bati papo com pessoas que não via há anos
Redescobri lugares despercebidos na correria
Tomei sol e fiquei mais corada e saudável
Conversei comigo mesma nas caminhadas
Aprendi a comprar menos

Andando a pé percebi que a vida passa rápido para quem tem pressa

Não ligarei pro mecânico, não.






sábado, 25 de maio de 2013

O que você comeu no almoço?


Ontem, na finalização de um curso a atividade de cada grupo culminou em uma apresentação. E nem sei se fui a escolhida a expor, ou se escolhi ser, mas o fato é que lá estava eu na frente de dezenas de colegas de profissão apresentando o resultado de nosso trabalho. E quando a fiz, extrapolei a formalidade e falei como falo com os meus alunos, de forma espontânea e bem próxima. Em um determinado momento ouvi um comentário: “O que será que ela comeu no almoço?”

E somente agora vou responder o que comi no almoço e surpreendam-se, pois foi apenas o alimento necessário para manter o meu corpo vivo, o trivial, a comidinha de todo dia. Mas o que me moveu a fazer a apresentação do jeito que fiz, o ópio, o alimento, a motivação, foi nada mais nada menos que a emoção. Emoção sim, pois a rotina ainda não cansou o meu olhar. Ainda me emociono ao compartilhar meu conhecimento, pois o verbo a se conjugar em tempos modernos não é ensinar: é compartilhar. O que me move ainda é o brilho nos olhos dos meus alunos ouvintes. Embora deva confessar a vocês que falar para alunos é muito mais fácil, porque o que vejo nos olhos deles é expectativa, e nos olhos de meus pares, crítica.

Lá na frente, com inúmeros olhares cravados e prontos a me julgar, me senti algo parecido com “uma garotinha, sentada com minhas meias três quartos, esperando o ônibus da escola, sozinha, rezando baixo”, mas usando um pouco da malandragem que aprendi nesses anos, em que gente é a minha matéria prima e  que um bolo não é redondo porque lembra bola, mas que ele pode ser quadrado, estrelado ou infinitamente diferente para cada um, fiz minha apresentação ignorando quem me olhava e levando em conta como eu olhava.
Obs.:  No texto encontramos referência à crônica “Vista Cansada” de Otto Lara Resende, à letra da música “Malandragem”, de Cássia Eller e ao Livro “Marcelo, Marmelo, Martelo” de Ruth Rocha
 




segunda-feira, 29 de abril de 2013

Coisas que aprendi

Com meu anjo Vitor:
Que a vida não tem script, não tem rascunho. Ela é o que é.
Que ser feliz é muito mais simples do que pensamos:  é ouvir a voz das pessoas que amamos, é estar junto delas, olhando-as, observando-as e sorrindo para elas. Sorrindo sempre.
É gargalhar das onomatopéias.
É ouvir mil vezes a mesma história e mil vezes rir da mesma coisa…”Então a mãe do Marcelo olhou pro pai do Marcelo e o pai do Marcelo falou…”(Ruth Rocha).
É gritar com vontade quando ouvimos a nossa música preferida, porque nos falta a fala.
É dancar com o pensamento quando nossas pernas não nos sutentam e o equilíbrio nos falta.
É comer mamão com papaya como se fosse o manjar dos deuses.
É acordar de madrugada sem sono e gargalhar, gargalhar e gargalhar.
É sorrir com os olhos.
É lutar contra todas as adversidades, sem preguiça.
É nunca ter mau humor.
É rir quando reza a Ave Maria, porque sente a presença de Deus.
É fazer da existência uma aventura memorável.
É isso.

sábado, 20 de abril de 2013

Depois da tempestade

Escolhi este título, pois tempestade foi o que moveu minha vida nos útimos meses.
Ufa, achei que ia pirar. A depressão sondando, tentando chegar de mansinho, como quem não quer nada. Desanimando, desgovernando, tirando a energia, tornando os dias todos uma sequência de fazer por obrigação. Tentando tirar o sentido de tudo. Roubando a serenidade, a sanidade, a vontade de viver.


Mas como diz uma pessoa muito querida "o universo conspira" e no meu caso a conspiração veio em forma de uma grande piora no estado geral de meu filho. As crises epiléticas retornaram com força total, remédios, remédios e mais remédios, resultando em uma sedação excessiva e levando-o a necessitar de alimentasção por sonda. Em meio a tudo isto, perdemos a querida Obá, que nos deixou de forma serena. Mas voltando à conspiração universal, a alimentação por sonda requer tempo, paciência e tranquilidade, ingredientes que faltavam na minha vida. Cada alimentação, que durava cerca de 40 minutos e era oferecida de duas em duas horas, era um exercício de paciência. A cada ml de alimento que passava pela sonda eu pensava: ele vai sair desta, ele vai voltar a comer. E eis que no dia 22 de dezembro o Pai Misericordioso presenteou-me com a retirada da sonda.


Devagarinho fomos reaprendendo: ele a comer e eu a cultivar a paciência.
(Texto escrito em janeiro de 2013)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O velho do rastelo

Tarde quente em Ribeirão Preto. Calor verdadeiramente insuportável. Aguardo meu filho terminar a sessão de equoterapia. Ao meu lado estaciona um casal, em um desses carros que só os ricos podem comprar. Supostamente aguardam a aula de equitação começar, e o fazem com o ar condicionado do carro ligado. Carro funcionando, combustível queimando. Bom, deve ser uma espera rápida, penso eu. Mas uma hora se passa, sai o rapaz do carro e a moça permanece lá dentro na frescura do seu ar, fechada no seu mundo de riqueza.

Passa por ali o "seu" Gêno, com seu rastelo a retirar as folhas que o vento insistentemente atira ao chão. "Seu" Gêno tem seus sessenta e tantos anos, sua em bicas, mas resiste firme ao sol que castiga, ao calor que enfraquece e segue pacientemente limpando cada canto daquele imenso terreno.Sereno e feliz.

De meu carro, abanando-me com um leque vindo da China, observo aquela cena contrastante, entristeço-me, revolto-me e enfim aceito as gritantes diferenças terrenas e compactuo com a alegria desse senhor, que com sua simplicidade e humildade me dá uma lição de grandeza espiritual.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Um quebra-cabeça chamado eu


Todos nós somos seres unos, individuais, complexos. Uma complexidade de ideias, de vontades, de gostos e de quereres. Um imenso quebra-cabeça com milhões de peças a serem encaixadas.

E eis que em um determinado momento de nossa vida resolvemos misturar as peças de nosso quebra-cabeça com as de outra pessoa. O que já era difícil se  torna impossível. Sabe-se lá porque passamos a acreditar que nossa felicidade depende do outro. Depositamos nosso destino no outro. Parece que sem ele/ela nossa aquarela perde o colorido. O tédio passa a ser nosso companheiro diário. Deixamos de sorrir, de sair. O trabalho é colocado em segundo plano. A vida fica em “stand by”.

Todos que depositam sua felicidade em alguém ou em alguma coisa tendem a ser infelizes, porque a felicidade é algo intrínseco do ser humano, e é só seu. Só depende de você, de sua vontade. Ser feliz é estar de bem com a vida, é sentir-se bonito/bonita, acordar espreguiçando, olhar-se no espelho e dizer para ele: eu me amo, eu me respeito.

Montar nosso quebra-cabeça não é fácil e ainda que consigamos sempre sobrarão arestas, afinal somos humanos ainda. Mas ser feliz nessa empreitada só depende de uma atitude, a de querer viver a vida plenamente, com alegria e entusiasmo

Aguardemos a primavera


"Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez" (Beto Guedes)
 
Nossa alma se enche de vida para receber a estação mais florida.